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segunda-feira, novembro 30, 2009

UMA VIAGEM GARIMPEIRA NAS PROFUNDEZAS DA TERRA

TONI DUARTE
Enviado Especial
Os olhos de João Pimenta Braga, 54 anos, estavam fixados sobre homens muito bem equipados que pareciam astronautas. A atenção do calejado ex-garimpeiro de Serra Pelada também acompanhava o vai vem dos possantes caminhões volvo A-35 que carregam até 40 toneladas de blocos rochosos. Os pesados veículos descem e sobem os 12 quilômetros de extensão de rampa, cujo o final dela marcam exatos 1.050 metros na vertical abaixo da terra. Vestido num macacão da cor de fogo, com lanterna acoplada ao capacete, óculos e mascaras de proteção e uma bolsa com oxigênio pendurada a cintura para ser usada caso for preciso, o velho garimpeiro ao lado de mais 9 companheiros seus, paramentados com igual indumentária, estavam prontos para uma viagem rumo às entranhas da terra.

Antes de iniciar a decida o grupo faz questão de pousar para fotos. Nunca, nenhum deles, tinha se visto dentro daquelas roupas que transmitiam segurança e que os faziam sentir - sem como garimpeiros modernos. Mais o que enchia de curiosidade e ao mesmo tempo de aflição, era a mina de ouro da empresa Mineração Fazenda Brasileiro pertencente ao grupo canadense Yamana Gold. A mina que antes foi da Vale do Rio Doce adquirida pela Yamana por US$ 20,9 milhões em junho de 2003, fica na pequena Teofilândia, cidade encravada no tórrido sertão baiano, distante a 210 quilômetros de Salvador.

As duas camionetes traçadas descem de ladeira abaixo a 10 km por hora. Às vezes aliviando um pouco nas sinuosas curvas escuras. Ao todo, até o fundo da mina, são 200 pequenas curvas. Francisco Edison, funcionário da MFB que dirige uma das camionetes justifica: “a falta de iluminação nas curvas é uma questão de segurança ao trafego pesado dentro da mina”. Somente os trechos retos é que são iluminados por potentes refletores. Os veículos deslizam na rampa em declive sacolejando o grupo de pessoas que jamais soube na vida como funcionava uma mina e muito menos sonhava pisar um dia em algumas delas.

A cada quilômetro percorrido de chão adentro era de medo contido. O silencio quase sepulcral do grupo parecia querer sobrepor os roncos dos motores das pesadas maquinas. Vez enquanto esse sentimento é rompido por curtos diálogos. “Agora estamos no inferno”, aponta o jovem Ramon Marques, 22 anos, despertando o riso amarelado coletivo. Ramon, como a maioria dos filhos nascidos na pequena comunidade de Serra Pelada nem de longe sabia o que era uma mina. Sabia apenas das estórias contadas pelos os mais velhos sobre o garimpo que emprestou o nome a sua comunidade, distrito de Curionópolis no Pará, fechado em 1992. Este deixou profundas marcas em muita gente.

Muitas dessas estórias contadas pelo próprio pai, Antonio Oliveira, que como milhares de outros trabalhadores colegas seus, haviam sidos submetidos ao trabalho escravo sob o olhar vigilante do governo que tratava a todos de forma desumana. “Esse sim, foi um verdadeiro inferno”, sustenta Ramon. Fora essa historia de dor e declínio social imposta pelo Estado brasileiro à família garimpeira, o jovem filho da Serra se sentia entusiasmado na viagem rumo às profundezas da terra. Nunca teve a oportunidade de ver um garimpo de perto. Mas estava ali para conhecer pela primeira vez uma mina de verdade. Algo que classificara como muito mais importante do que um simples garimpo. Ramon sabe que o ouro existente hoje na velha grande cava da Serra Pelada, só é possível ser retirado através do processo industrial. Por isso estava curioso para saber como e qual o processo utilizado.

Tudo que via e encontrava pela frente no curso da viagem da produtiva mina da Yamana, passava ser acessório de sua imaginação quase real. Sentia que aquela mina de Teofilândia, interior da Bahia, poderia ser a cópia fiel do que seria no futuro bem próximo a mina dos garimpeiros de Serra Pelada no interior do Pará. Daí o seu entusiasmo. Precisava compreender mais sobre esse novo momento que se avizinha o qual certamente mudará para melhor o retrato social da pobre e pequena comunidade, cuja vontade para isso corre nas veias de sua geração. Ramon no alto de sua inteligência sabe que só um projeto como esse é capaz de oferecer oportunidades de empregos e renda para as centenas de jovens como ele.

À medida que os carros avançavam para o fundo da mina a expressão dos rostos dos garimpeiros se contraem a cada situação. Os olhares se voltam para os enormes paredões arqueados sustentando uma montanha de pedras sobre as suas cabeças. “Deus está aqui”, balbucia José Ribamar Neguinho, olhando para o negrume do teto rochoso. O sub-vice prefeito de Serra Pelada atesta que o Criador está sempre a onde vida estiver. Fala isso como forma de pedir proteção, mas também com a convicção de que as centenas de trabalhadores que se dividem em três turnos de oito horas, de domingo a domingo, nas profundezas daquela mina, são todos obra de Deus. Neguinho tem razão ao proferir tão sábias palavras.

Nunca esses trabalhadores precisaram utilizar as centenas dos “pontos de fugas” e muitos menos as cinco “células de sobrevivência” disponíveis para qualquer emergência. A revelação feita por funcionários acalmou o coração do desconfiado José Almeida Cancão. Ouviu isso do experiente Francisco Edílson, há quase 25 anos no trato de minas subterrâneas. Francisco Edílson conhece como ninguém cada ponto da mina de Teofilândia. Diz que esses pontos de fugas e as células de sobrevivência são necessários porque funcionam como instrumentos de segurança preventiva de uma mina preocupada com a segurança de seus trabalhadores. Ele mostra aos garimpeiros uma das dessas células de sobrevivência. Nelas contem garrafas de oxigênio, macas, água potável, sanitário e alimentos parcialmente desidratados para evitar que se estraguem. No caso de acidente grave os trabalhadores vão para dentro delas até que sejam resgatados com segurança.

O que chamou mais a atenção do veterano garimpeiro Francisco Aderbal e do membro do conselho fiscal da Coomigasp, Joelmir Tadeu, o “Sorozinho”, foram as centenas de ramais ligados a quilométrica rampa que dão a ela um formato de espinha de peixe. Se esses ramais fossem colocados um emendado ao outro em linha reta, somariam cerca de 200 quilômetros de túneis. Essa é a distancia que separa Salvador, capital da Bahia, da pequena Teofilândia a onde se encontra a mina. Ao se deparar com o emaranhado subterrâneo de pequenas vias, Aderbal lembrou que muitos garimpeiros que entraram como “furão” na Serra Pelada chegavam a se perderem no meio da selva amazônica. Muitos deles eram encontrados famintos e desidratados.

Reuter, outro experiente funcionário que também acompanhava o grupo explica que não há nenhum registro de que alguém tenha se perdido nestes mais de 200 quilômetros de labirintos na área do subsolo da Mineradora Fazenda Brasileiro. Outra informação repassada pelo funcionário é de que desde 1984 quando a mina entrou em operação pelas mãos da Companhia Vale do Rio Doce até a presente data nunca houve um desabamento. Reuter sabe o que fala. A rocha grenstone belt conhecida como cinturão de rochas verdes é muito sólida. Não há escoras. Vazamentos de água só são percebidos em pontos isolados provocados pelos bicos das sondas ao romperem os minguados lençóis freáticos já que a mina se localiza numa região do semi-árido nordestino.

Apesar de todo convencimento de segurança dentro da mina tocada pela MFB de Teofilândia os gigantescos paredões metem medo para aqueles que jamais enfiaram os pés numa mina. A cada quilômetro rodado de ladeira a baixo, na cabeça de João Abel parecia está passando um desses velhos filmes do lendário Indiana Jones, personagem criado por Steven Spielberg que escapava ileso de uma mina depois de passar por inúmeros túneis desabando sobre ele. Com a sua inseparável filmadora e com permissão para filmar, Abel registra tudo que vê pela frente.

“Só vindo até aqui para a gente entender de uma vez por todas que não se constrói tudo isso de um dia para o outro. Eu mesmo achava de que saindo um alvará de lavra agora, já no ano seguinte a gente já estava tirando o ouro. O que vejo agora me faz pensar diferente”, cai na realidade. Abel conclui ainda que a visita a mina da Yamana representa um grande aprendizado para ele e para seus companheiros na área da mineração industrial.

A ficha caiu igualmente para José Carlos da Silva que em tempos passados ajudava a disseminar o imediatismo no meio garimpeiro do tipo: “quero o meu dinheiro é agora”. Mas do que nunca Carlos saiu convencido de que ouro só vale em cima da terra e que para isso acontecer tem todo um processo. Para captar míseras 2,5 gramas de ouro das profundezas da terra, a Mineradora Yamana teve que criar um centro de excelência com profissionais de alto conhecimento na mineração, investir em caríssimos equipamentos de ponta e moer uma tonelada de material para ter esse resultado.

Célio Sá de Sousa ficou fascinado diante de dois grandes rompedores com as suas potentes mandíbulas quebrando blocos da rocha vulcânica sedimentar, cujos fragmentos são içados através de um poço denominado por shaft. O material é empurrado para a enorme usina operada por 120 funcionários na superfície. Célio lembrou do esforço que fazia o seu velho pai Salomão ao subir perigosamente as escadas “adeus mamãe” ao lado de milhares de companheiros seus com sacos de cascalhos nas costas retirados dos barrancos na grande cava de Serra Pelada. “O que era retirado de lá por milhares de homens durante um dia todo de trabalho, não representava nem 1% do que essas maquinas tiram aqui em três horas”, calculou Célio.

Um pouco mais abaixo em cima dos quase 1.020 metros, Jose Raimundo ficou abismado com a agilidade do jovem Ivonaldo Matos, operando por controle remoto, uma maquina pá-carregadeira de 13 toneladas que investe com a força de muitos cavalos no motor contra as montoeiras de pedregulhos lavráveis. Ivonaldo chegou a MFB através do programa “Jovem Aprendiz” desenvolvido pela empresa voltado para a capacitação de profissionais de Teofilândia e região. “O cara opera a pesada maquina como se fosse um carrinho de brinquedo”, comenta perplexo. José Raimundo que é diretor de produção da Coomigasp diz não ter duvidas de que toda essa modernidade vai chegar logo em Serra Pelada e ser operada um dia pelos filhos da Serra. “Vamos ter que preparar a nossa juventude para fazer o mesmo que o Ivonaldo faz”, enfatiza o garimpeiro já com visão de futuro.

O que viram dentro da mina é apenas uma pequena parte do que é na realidade o gigantesco empreendimento mineral da Yamana considerado de médio porte. O engenheiro de mina e gerente geral Silvano Andrade, explica aos garimpeiros de Serra Pelada que o grupo brasileiro-canadense conta hoje com um total de sete mineradoras, sendo uma no Mato Grosso, uma em Goiás, duas no Chile, uma em Honduras, além das duas na Bahia. Segundo ele, a maior parte da produção da companhia é adquirida por fundidoras internacionais de diversos países. Ele fala sobre o conceito de mineração inteligente praticado pela Yamana nos últimos seis anos.

Ao passar um vídeo sobre o funcionamento da empresa os garimpeiros, sobretudo aqueles que são membros da diretoria da Coomigasp, começaram a compreender toda a extensão da mina. O comando de tudo está no aparato de Gestão Empresarial denominada de “Sistema Yamana de Gestão – SYG” que se debruça em estratégias que visam ultrapassar as metas de produção em cada ano. Cuidados com o meio ambiente, segurança no trabalho e responsabilidade social, são pilares importantes que fazem da Yamana uma empresa certificada na ISO 14001. O complexo industrial extrai quase três toneladas do metal por ano.

O gerente da planta de beneficiamento David Barros passeia com os garimpeiros pela ala mais restrita de toda a mina a onde fica a gigantesca planta de produção do ouro. Foi o único local proibido filmar ou fotografar. O sistema de segurança é rígido. Ninguém entra sem se identificar e que esteja devidamente autorizado. Uma exigência até mesmo para os mais graduados dentro da empresa. Do processo de exploração resulta uma polpa com minerais não aproveitados, cianeto e água, que é enviada para três lagos de rejeitos com fundo impermeabilizado para evitar a contaminação do solo e do lençol freático.

A mineradora optou por reutilizar a água no beneficiamento do ouro. Cerca de 100 metros cúbicos retornam das lagoas para ser reutilizados nos processos de moagem, espessamento e hidrometalurgia, configurando um sistema que só não é totalmente “fechado” por haver evaporação. Além da preservação dos recursos hídricos, há ganhos no que se refere à estabilidade da barragem, na deposição de um maior volume de rejeitos e na redução de custos no consumo de água. Na Mineração Fazenda Brasileiro, estão sendo injetados US$137 milhões no desenvolvimento da mina e expansão da produção, que vai saltar das atuais 80 mil onças para cem mil. Com as intervenções, devem ser contratados em torno de 900 funcionários, além de 700 terceirizados.

O coordenador de geologia Maurício de Aquino Assis, deu uma aula de geologia ao pequeno grupo de garimpeiros de Serra Pelada. Ele explica que os corpos de minérios se distribuem no subsolo e contou como faz para descobri-los aumentando a cada ano a vida útil da mina cuja operação iniciou em 1984. Ele garantiu que os trabalhos desenvolvidos na área das pesquisas projetam mais cinco anos de vida pela frente. “É uma mina que nos primeiros estudos se previa 10 anos de vida útil. Agora exibe a maioridade de “bodas de prata” almejando chegar à de ouro, com o metal nobre extraído 24 horas por dia, todos os dias do ano”, aponta o geólogo.
De concreto a viagem feita por esse pequeno grupo de garimpeiros de Serra Pelada ao interior da Bahia serviu para mudar o conceito do que é um garimpo e do que é uma mina. A visita ao fabuloso parque industrial da mineradora Yamana Gold foi proporcionada pela Colossus empresa parceira da Coomigasp. O geólogo Heleno Costa, vice-presidente de Operações da Colossus que acompanhou os garimpeiros afirmou que a visita teve o objetivo de aproximá-los dessa nova realidade que será implantada em Serra Pelada. Os garimpeiros sabem agora mais do que nunca, que o ex-garimpo de tantas tragédias do passado, terá que sair definitivamente de cena, para dar lugar a um complexo da industrial mineral que irá prospectar o ouro de Serra Pelada para distribuir riquezas e prosperidade a todos. Esse complexo que todos sonham será tocado pela Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral – SPCDM, empresa constituída pela Coomigasp e Colossus

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